08 fevereiro 2008
Redução de Danos - O Capítulo
Em alguns casos de dificuldades, erros, hábitos ou vícios, a melhor maneira de lidar com a situação é utilizar-se de um sistema mais ameno e próximo da realidade do que a perfeição.
Reduzir danos significa fazer o melhor, o possível, para resolver ou melhorar as circunstâncias dentro de padrões mais simples do que o comum. No caso de um problema profissional ou pessoal de gravidade maior, isso pode ser feito em três etapas.
Primeiramente uma aceitação e visualização da situação, com uma certa frieza, para que tenhamos noção do tamanho do problema. Ao realizar este exercício, muitas vezes veremos que esses problemas graves não são diferentes do que grande parte da humanidade vive, e saberemos que não estamos sozinhos em uma situação inédita, mas sim somos novos atores de uma trama que provavelmente já se desenrolou várias vezes nos mais diversos pontos do globo. Essa aceitação nos dá mais forças pra lidarmos com o que realmente interessa, e aí entra a segunda parte.
Após sabermos a proporção do que lidamos, pensamos em várias alternativas e possibilidades, da mais simples em que tudo dá certo de primeira até a que o maior número de coisas possíveis dêem errado. Isso nos dá uma gama muito grande de “teias de possibilidade”. As teias são a realidade, e cada decisão que tomamos elimina muitas possibilidades futuras e cria novas em seu lugar. Assim, cada ato representa uma afirmação que nos induz ao nosso próprio futuro. Tendo essa visão completa de teias de possibilidades, teremos, além da visão atual, uma previsão futura de diversas hipóteses, e subconscientemente estaremos mais preparados para aceitar e lidar com qualquer uma delas.
A terceira e última etapa é fazermos o melhor que pudermos para que as coisas fiquem de acordo, em seus lugares, e deixarmos o terreno preparado para a solução da situação da melhor maneira que pudermos. Significa fazer o que é possível e deixar o resto por conta da natureza, das circunstâncias, de Deus, do cósmico, do destino ou como preferir chamar a força que conduz tudo o tempo todo.
Vamos supor alguém que queira passar no vestibular. Sabemos que a concorrência de entrada em boas universidades, especialmente as públicas, é muito grande. Então se levanta a estatística de concorrência, depois se analisa quais os tópicos que precisam ser estudados e qual situação atual de preparo se encontra nosso vestibulando. Assim, num primeiro momento, já temos uma boa visão da realidade. Em seguida, esse vestibulando se imagina ou fazendo cursinho, ou estudando em casa, e principalmente se imagina passando no vestibular. Imagina a primeira possibilidade, de dar tudo certo de primeira, e imagina que terá que repetir o processo diversas vezes até obter sucesso. Estará assim preparado para qualquer resultado e com planos alternativos para tais situações. Por último, se matricula num cursinho completo, ou num super intensivo, ou estuda em casa, dependendo de seu tempo e dinheiro disponíveis. Faz o possível, estuda quando dá, e dá o melhor de si para que tudo dê certo, sem deixar de lado seus afazeres cotidianos e principalmente sem deixar que sua vida se torne exclusivamente uma obsessão de aprovação. Fazer o melhor e deixar que passem os melhores. Assim será sempre, e muitas vezes não estaremos entre os melhores. Enfim, não deixar de realizar as atividades físicas, os passeios com o cachorro ou namorada, as sessões de cinema, e nem deixar de estudar para realizar essas atividades. Um equilíbrio saudável. O resultado normalmente pra quem segue essas dicas é surpreendente.
Em outro caso analisemos alguém que, interessado em alterar seus hábitos alimentares, deseja se tornar vegetariano. Provavelmente, se optar por uma transição do tipo “segunda-feira não como mais carne” não obterá sucesso em sua empreitada. Se, ao invés disso, lentamente reduzir o consumo de carne vermelha primeiramente, comendo apenas quando a vontade estiver muito latente, e lentamente reduzindo as quantidades até que consiga se alimentar com carne branca ao invés da carne vermelha. Repetindo o mesmo processo para a carne branca, substituindo, devagar e sem pressa, porém também sem muito acomodamento, a carne branca por peixes, e logo em seguida repetindo o processo substituindo o peixe por soja e derivados. Com certeza essa maneira de mudar o estilo de vida tem muito mais sucesso do que a repentina alteração.
Dizem que para se criar ou se eliminar um hábito são necessários 21 dias. Se repetirmos um mesmo processo por três semanas, estaremos inserindo isso no dia a dia e automatizando sua execução e inclusão na rotina. Ao contrário, se deixar de realizar alguma atividade pelo referido período, ficará cada vez mais comum o fato de não estarmos nos ocupando com aquela atividade, e logo outras assumirão o lugar e teremos liberado algum espaço do nosso dia para uma nova tarefa. Este é um pequeno segredo simples das coisas da vida.
Por último um exemplo mais intenso, um vício por exemplo. Alguém que utiliza alguma substância de alteração de estado de humor, seja ela lícita ou ilícita, e que se sente pronto espiritualmente para viver uma vida mais equilibrada sem o uso da mesma. Se, ao invés de alimentar uma vontade de destruir esse vício simplesmente começar a ignorá-lo, reduzindo sempre que possível (e às vezes isso significa que é possível simplesmente parar de uma vez) as quantidades e utilizando a energia mental para adicionar novas coisas na vida, em pouco tempo, e sem a preocupação de acabar com o vício, a mente direcionada para uma nova posição fará que o hábito por si só acabe. Um outro pequeno segredo da vida é esse: a energia que sustenta algo precisa fluir pra manter qualquer existência. O próprio mal que tanto assola a humanidade, se deixar de ser sustentado, se extingue por si mesmo.
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