17 junho 2014

O Perfeito Tao (de Lao Tsé)

O Perfeito Tao

O Tao que se revela com Tao
não é o Tao

O tal que se diz de Tao
não é o Tao

O Tao que se acha o tal
não é o Tao

O Tao que se quer saber tal qual
não é o Tao

O Tao que se mede num total
não é o Tao

O Tao que balança bem e mal
não é o Tao

O Tao que separa mel e sal
não é o Tao

O Tao que se chama Tao
tal não é o Tao

Não tem nome a fonte da matéria
mas a mãe da vida pode ter.
Por não-ser a gente sonha o segredo;
pelo ser capturamos a fagulha.
Ser, não-ser, são faces
do rosto original.
São vias da mesma láctea,
cores do mesmo leite,
no mesmo leito abissal.

Escurecer a escuridão
na escuridão total:
eis a iluminação.






A Generosidade Sem Fim

Ele flui na origem da fonte da vida.
Ele está em tudo e não está prosa.
Ele é o Tao, que anima a quintessência
e depura o substrato a torto e a direito.

Incontilhões de coisas são seus filhos
e ele não abandona nenhuma.
Sua obra, de tão perfeita,
parece não ter feito coisa alguma.

Dá corpo, casa e comida,
sem fazer escarcéu,
para que tudo coma, beba e durma
sonhando que cai do céu.

É grande ingratidão fazer pouco
do generoso chão onde se pisa.
Quem só crê em grandeza proclamada,
amesquinha o próprio ponto de partida.

O homem de Tao aprendeu a praticar
o não ser grande coisa:
deixar passar para os outros
só o anônimo do bom e do melhor.

Portanto, por nada cobrar,
sua grandeza não faz de conta.

(Retirado de Tao - O Livro, de Lao Tsé - versão por Alberto Centurião de Carvalho, Antonio Thadeu Wojciechowski, Roberto Prado)

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