O Comportamento Assertivo (retirado do blog http://www.umtoquedemotivacao.com )
Se você passa pela vida cheio de inibições, cedendo à vontade alheia, guardando seus desejos dentro de si, ou, ao contrário, destruindo os outros a fim de atingir seus próprios objetivos seu sentimento de autovalor estará baixo. Nosso sistema de vida ocidental muitas vezes cultiva maneiras conflitivas de comportamento em várias áreas de relacionamento interpessoal, havendo uma nítida contradição entre comportamentos “recomendados” e comportamentos “reforçados”. As instituições da sociedade têm ensinado com tanto empenho a inibir a expressão dos direitos razoáveis de uma pessoa que esta pode se sentir culpada por haver se afirmado.
Cada pessoa tem o direito de ser e de expressar a si mesma, e sentir-se bem (sem culpas) por fazer isso, desde que não fira seus semelhantes no processo. O comportamento que torna a pessoa capaz de agir em seus próprios interesses, a se afirmar sem ansiedade indevida, a expressar sentimentos sinceros sem constrangimento, ou a exercitar seus próprios direitos sem negar os alheios, é denominado de comportamento assertivo.
A pessoa não-assertiva tende a pensar na resposta apropriada depois que a oportunidade passou. A pessoa agressiva pode responder muito vigorosamente, causando uma forte impressão negativa e mais tarde arrepender-se disso. É nosso propósito neste texto, orienta-lo para que obtenha um repertório de comportamento assertivo mais adequado para que escolha respostas apropriadas e satisfatórias em várias situações.
Pesquisas demonstraram que o aprendizado de respostas assertivas inibirá ou enfraquecerá a ansiedade previamente experimentada em relações interpessoais específicas. Quando a pessoa se torna capaz de afirmar-se e fazer coisas por iniciativa própria, ela reduz apreciavelmente sua ansiedade ou tensão anteriores em situações críticas e aumenta seu senso de valor como pessoa. Este mesmo senso de valor está geralmente ausente na pessoa agressiva, cuja agressividade pode mascarar sentimentos de culpa e de insegurança. Desta forma, podemos caracterizar três tipos de comportamento interpessoal:
O EMISSOR
NÃO-ASSERTIVO
- Nega a si próprio
- Fica inibido
- Permite que outros escolham
- Não atinge os objetivos
- Fica magoado e ansioso
ASSERTIVO
- Valoriza-se
- Expressa-se
- Escolhe por si para ele mesmo
- Atinge os objetivos desejados
- Sente-se bem consigo mesmo
AGRESSIVO
- Valoriza-se às custas dos dos outros
- Expressa-se
- Escolhe para os outros
- Pode atingir os objetivos ferindo os outros
- Deprecia os outros
O RECEPTOR
NÃO-ASSERTIVO
- Sente culpa ou raiva
- Sente-se ferido, humilhado e na defensiva
- Não atinge os objetivos desejados
ASSERTIVO
- Valoriza-se
- Expressa-se
- Pode atingir os objetivos desejados
AGRESSIVO
- Repudia-se
- Deprecia o emissor
- Atinge os objetivos às custas do emissor
O comportamento agressivo resulta comumente num “rebaixar” o receptor. Seus direitos foram negados e ele se sente ferido, humilhado e na defensiva. Embora a pessoa agressiva possa atingir seus objetivos, ela pode também gerar ódio e frustração que poderá receber mais tarde como vingança.
Por outro lado, um comportamento assertivo apropriado na mesma situação aumentaria a auto-apreciação do emissor e uma expressão honesta de seus sentimentos. Geralmente ele atingirá seus objetivos, tendo escolhido por si mesmo como agir. Um sentimento positivo a respeito de si mesmo acompanha uma resposta assertiva.
Do mesmo modo, quando as consequências destes três comportamentos contrastantes são vistas da perspectiva de uma pessoa “sobre a qual” eles são emitidos (ou seja, o indivíduo ao qual o comportamento é dirigido), surge um padrão paralelo. O comportamento não-assertivo produz freqüentemente sentimentos que vão de simpatia a um franco desprezo pelo emissor. Também a pessoa que recebe a ação (receptor) pode sentir culpa ou raiva ao atingir seus próprios objetivos às custas do emissor. Pelo contrário, uma transação envolvendo asserção aumenta os sentimentos de autovalorização e permite expressão total de si mesmo. Além disso, enquanto o emissor atinge seus objetivos, os objetivos do indivíduo ao qual o comportamento é dirigido também podem ser atingidos.
Em suma, é claro então que no comportamento não-assertivo o emissor se prejudica pela própria autodesvalorização; e no comportamento agressivo o receptor é prejudicado. No caso da asserção, nenhuma pessoa é prejudicada e, a menos que os objetivos desejados sejam totalmente conflitantes, ambos podem sair-se bem.
EXEMPLOS DE CASOS
“Jantando Fora”
O Sr. e a Sra.A estão num restaurante de preços moderados. O Sr.A pediu um bife especial, mas quando foi servido percebeu que estava muito bem passado, ao contrário do que ele havia pedido. Seu comportamento é:
Não-Assertivo:
O Sr.A resmunga para a mulher a respeito do bife “queimado” e diz que não volta mais neste restaurante. Ele não diz nada ao garçom e responde “tudo legal” à sua pergunta “está tudo bem?”. A sua noite e seu jantar são altamente insatisfatórios e ele se sente culpado por não ter tomado uma atitude. A auto-estima do Sr.A e a admiração da Sra.A por ele são diminuídas pela experiência.
Agressivo:
O Sr. A chama o garçom à mesa e é injusto e grosseiro com ele por não ter atendido bem. A sua atitude ridiculariza o garçom e constrange a Sra.A. Ele pede e recebe outro bife mais de acordo com o que queria. Ele se sente controlando a situação, mas o embaraço da Sra.A cria atrito entre eles e estraga a noite. O garçom fica humilhado, zangado e sem jeito o resto da noite.
Assertivo:
O Sr.A chama o garçom à sua mesa, lembra-lhe que pediu um bife especial, mostra-lhe o bife bem passado, pede-lhe educada mas firmemente que o troque por um mal passado como ele havia pedido. O garçom pede desculpa pelo erro e rapidamente o atende. O casal aprecia o jantar e o Sr.A se sente satisfeito consigo mesmo. O garçom se sente feliz com o freguês satisfeito e o serviço adequado.
“Emprestando Alguma Coisa”
Helen é uma universitária atraente e excelente estudante, amada pelos professores e colegas. Ela mora numa república com seis moças, dividindo seu quarto com duas. Todas as moças namoram regularmente. Uma noite, enquanto as colegas de quarto de Helen se preparavam para encontrar os namorados (Helen planeja uma noite tranqüila elaborando um trabalho escolar), Maria diz que vai sair com um cara muito legal e espera dar uma boa impressão. Ela pergunta a Helen se pode usar um colar novo que Helen acabou de ganhar de seu irmão. Helen e seu irmão são muito amigos e o colar significa muito para ela. Sua resposta é:
Não-Assertiva:
Ela “engole em seco” seu medo do colar ser perdido ou danificado, e seu sentimento de que seu significado especial o tornava muito importante para ser emprestado e diz:”Claro”.
Ela se desvaloriza, reforça Maria por fazer um pedido excessivo e se preocupa toda a noite (o que traz pouca contribuição para o trabalho escolar).
Agressiva:
Helen mostra indignação pelo pedido da amiga, diz-lhe “absolutamente não” e começa a censurá-la severamente por atrever-se a fazer uma pergunta “tão cretina”. Ela humilha Maria e faz um papel ridículo. Mais tarde se sente incomodada e com sentimento de culpa, o que interfere no seu estudo. Maria se sente ferida e estes sentimentos manifestam-se mais tarde, estragando seu encontro, pois não cosegue se divertir, o que intriga e desencoraja o rapaz. Daí em diante o relacionamento de Helen com Maria passa a ser bastante tenso.
Assertiva:
Ela fala do significado do colar e, gentil mas firmamente, diz que aquele pedido não pode ser atendido, pois a jóia é muito pessoal. Mais tarde ela se sente bem por ter sido sincera consigo mesma e Maria, reconhecendo a validade da resposta de Helen, faz grande sucesso com o rapaz, sendo também mais honesta e franca com ele.
“Fumando Maconha”
Pam é uma aluna do terceiro colegial, muito simpática, que tem se encontrado com um rapaz muito atraente do qual tem gostado muito. Numa noite ele a convida a participar de um bate-papo com outros dois casais, ambos casados.
Quando todos se reuniram na festa, Pam sentiu-se muito bem e gostou muito. Depois de uma hora mais ou menos, um dos homens casados pegou alguns cigarros de maconha e sugeriu que todos fumassem. Todos prontamente aceitaram, exceto Pam, que não queria experimentar maconha. Ela fica em conflito, porque o rapaz que ela admira está fumando maconha e, quando ele lhe oferece o cigarro, ela decide ser:
Não-Assertiva:
Aceita o cigarro, demonstrando já ter fumado maconha antes. Ela observa atentamente os outros para ver como eles fumam. No fundo, ela teme que eles lhe peçam para fumar mais. Os outros estão falando em “ficar muito doidos” e Pam está preocupada com o que o rapaz está pensando dela. Ela negou a si própria, não foi sincera com seu namorado, e sente remorso por ter entrado numa que não queria.
Agressiva:
Pam fica indignada quando lhe oferecem a maconha e explode com o rapaz por tê-la levado a uma festa de tipo tão “baixo”. Diz que prefere voltar logo para casa do que ficar com este tipo de gente. Quando as outras pessoas da festa lhe dizem que ela não precisa fumar, se não quiser, ela não se satisfaz e continua indignada. Seu amigo fica humilhado, sem jeito com seus amigos e desapontado com ela. Embora ele continue cordial com Pam quando a leva para casa, ele não mais a convidará para sair.
Assertiva:
Pam não aceita o cigarro, dizendo simplesmente: “Não, obrigada. Não estou com vontade”. Ela continua, explicando que nunca fumou antes e que não tem vontade de fazê-lo. Diz que preferiria que os outros não fumassem, mas reconhece o direito que eles têm de fazer suas próprias escolhas.
“A Gorducha”
O Sr. e Sra.B estão casados há nove anos e recentemente vêm tendo problemas conjugais, porque ele insiste em que ela está muito gorda e precisa emagrecer. Ele volta ao assunto constantemente, dizendo-lhe que ela não é mais a mesma mulher com quem se casou (que tinha 50 Kg.), que este excesso de peso lhe faz mal a saúde, que ela é um mau exemplo para as crianças, etc.
Além disso, ele a goza, dizendo que ela é bola, olha apaixonadamente para as moças magras, comentando sobre o quanto são atraentes, e faz referências à sua má aparência na frente dos amigos. Nos últimos três meses o Sr.B tem se comportado desta maneira e a Sra.B já está terrivelmente contrariada. Ela tem tentado perder peso nestes três meses, mas sem muito sucesso. Seguindo a onda de críticas do Sr.B, a Sra.B é:
Não-Assertiva:
Ela pede descupas por seu excesso de peso, às vezes se descupa sem convicção, outras simplesmente aceita calada as críticas do marido. Interiormente ela sente raiva do marido pela sua chateação e culpa-se pelo excesso de peso. Sua ansiedade torna mais difícil para ela perder peso, e a briga continua.
Agressiva:
A Sra.B faz frequentes comentários, dizendo que seu marido também não vale grande coisa. Ela menciona o fato de que à noite ele cai no sono no sofá, é um péssimo parceiro sexual e não lhe dá atenção suficiente.
Estas coisas não têm nada a ver com o problema, mas a Sra.B continua. Ela queixa-se de que ele a humilha na frente das crianças e amigos mais chegados e age como um “velho sem vergonha” pelo modo que olha as moças atraentes. Na sua raiva ela só consegue ferir o Sr.B e construir uma barreira entre eles, defendendo-se com o contra-ataque.
Assertiva:
A Sra.B procura o marido numa hora em que ele está sozinho e não será interrompido; então lhe diz que sente que ele está certo com relação à sua necessidade de perder peso, mas que não gosta da sua maneira de colocar o problema. Diz que está fazendo o melhor que pode e que está sendo duro perder peso e manter o regime. Ele compreende a ineficácia de ficar repisando o assunto e decidem trabalhar juntos num plano no qual ele vai reforçá-la sistematicamente por seus esforços em perder peso.
“O Menino do Vizinho”
O Sr. e Sra.E têm um filho de dois anos e uma filha de dois meses. Recentemente, por diversas noites, o filho do vizinho de 17 anos, tem ficado em seu carro, ao lado da casa, ouvindo som altíssimo. Ele começa exatamente na hora em que as duas criaças do casal E se recolhem para dormir, exatamente ao lado da casa onde o rapaz ouve as músicas. A música alta acorda as crianças toda noite e é impossível para os pais fazê-las dormir enquanto a música continua. O casal E está incomodado e decide ser:
Não-Assertivo:
O Sr. e Sra.E levam as crianças para seu quarto, do outro lado da casa, esperam até que a música cesse, por volta de 1 hora da madrugada, então transferem as crianças para o quarto delas. E vão dormir muito depois do horário de costume. Eles continuam a maldizer o rapaz em silêncio, e breve se desligam dos vizinhos.
Agressivo:
O casal E. chama a polícia e reclama que “um desses jovens selvagens” da casa ao lado está incomodando. Exigem que a polícia “faça seu papel” e pare com o barulho de uma vez. A polícia fala com o rapaz e com seus pais, que ficam muito chateados e com raiva pelo embaraço da visita da polícia. Eles reprovam o fato de o casal E ter chamado a polícia antes de conversar com eles e resolvem evitar qualquer relacionamento com eles.
Assertivo:
O casal vai à casa do rapaz e diz a ele que sua música está mantendo as crianças acordadas à noite. Procura, junto com o rapaz, encontrar uma solução para o caso, que não pertube o sono das crianças. O rapaz relutantemente concorda em abaixar o volume à noite, mas aprecia a atitude cooperativa do casal E. Todaos se sentem bem com os resultados.
“Já Passou dos Limites”
Marcos, de 28 anos, chega em casa e encontra um bilhete da mulher, dizendo que iniciou um processo de divórcio. Ele fica muito perturbado, principalmente porque ele não lhe disse cara a cara. Enquanto procura se controlar e compreender por que ela agiu daquela maneira, ele relê seu bilhete:
“Marcos, estamos casados há 3 anos e nunca, em nenhum momento, você me permitiu ser eu mesma e agir como um ser humano. Você sempre me disse o que fazer, sempre tomou todas as decisões. Você nunca aprenderá a mostrar carinho e afeição por ninguém. Tenho medo de ter filhos com receio de que eles possam ser tratados como eu sou. Aprendi a perder todo o respeito e admiração por você. Ontem à noite, quando você me bateu, foi o fim. Vou me divorciar de você.”
Marcos decide reagir a este bilhete sendo:
Não-Assertivo:
Sente-se completamente só, com remorso e com pena de si mesmo. Começa a bater e finalmente toma coragem suficiente para chamar sua mulher na casa dos pais dela. No telefone, implora perdão, pede a ela que volte e promete mudar.
Agressivo:
Marcos fica furioso com o comportamento de sua mulher e sai para procurá-la. Ele a agarra violentamente pelo braço e exige que ela volte para o lar ao qual ela pertence. Diz-lhe que ela é sua mulher e tem que fazer o que ele diz. Ela briga e resiste; seus pais intervêm e chamam a polícia.
Assertivo:
Marcos liga para a mulher e diz-lhe que percebe que foi tudo basicamente por culpa dele, mas que gostaria de mudar. Fala de sua boa vontade de marcar uma consulta com um psicólogo e espera que ela participe com ele.
FUNDAMENTOS PARA UM COMPORTAMENTO ASSERTIVO
“Tá bom”, você diz, “pode ser que eu não seja tão assertivo quanto gostaria de ser. Você não pode ensinar um cavalo velho a marchar. Esta é minha maneira de ser. Não posso mudá-la”.
Não concordamos. Milhares de pessoas têm descoberto que se tornar mais assertivo é um processo de aprendizagem e que é possível para elas mudarem. Muitas vezes um “cavalo velho” precisa de mais tempo para aprender, mas a recompensa é grande e o processo não é, de fato, tão difícil. Em primeiro lugar, como posso saber que realmente quero mudar? Existe algum perigo em potencial na asserção? E as pessoas significativas da minha vida; elas não farão objeção se eu, de repente, me tornar mais expressivo?. Este capítulo pretende fornecer uma fundamentação para o desenvolvimento autodirigido do comportamento assertivo.
PORQUE DEVO MUDAR?
“Sim, sou não-assertivo, e daí?” Bem, pense por exemplo, até que ponto você conhece as consequências deste comportamento? Já observou como você se dá com os outros? Frequentemente as pessoas tiram vantagem de você? Você evita certas situações sociais porque se sente muito ansioso? Já perdeu um emprego ou encontro por não ter conseguido conversar com alguém? Nunca isto lhe custou dinheiro, porque você “não podia” devolver à loja uma compra estragada? Já comprou alguma coisa que não queria, porque “não podia dizer não”? Já foi criticado por seu cônjuge ou por outras pessoas por indecisão?
Algumas destas consequências da não-assertividade forçosamente produzirão angústia, desapontamento e talvez auto-recriminação. Se você experimentou este tipo de sofrimento já tem motivação para mudar. Você está pronto para ir em frente e estamos certos de que os procedimentos apresentados aqui lhe serão de grande valor. Aprender a “lutar por seus direitos” não é uma panacéia, mas um grande passo para se libertar do peso de um comportamento de autonegação.
Muitas vezes é mais difícil a pessoa agressiva perceber que necessita de ajuda, pois está acostumada a controlar o ambiente para satisfazer suas necessidades. Se seu estilo é agressivo, é muito provável que suas relações atuais se tornem piores, a não ser que procure ajuda. Um relacionamento que não é saudável tende a se deteriorar e pode fazê-lo se sentir pior do que agora. Temos percebido que, em geral, a pessoa que se comporta agressivamente pode procurar mudar por sugestão de outros. Muitas vezes ela é movida pela sua própria frustração com a inadequação de seu comportamento.
Você sempre assume a liderança em relações sociais? É você, sempre, que tem que telefonar primeiro para seus amigos? Raras vezes as pessoas o introduzem espontaneamente numa discussão? Você é, invariavelmente, o “vencedor” nas discussões? Frequentemente você ralha com empregados por um serviço inadequado? Você dita as regras para seus subordinados no trabalho? Para seus familiares em casa? Você percebe as pessoas tentando evitá-lo? A alienação das pessoas que lhe são próximas é o preço que você paga para que as coisas caminhem do jeito que você quer? A assertividade pode atingir os mesmos resultados com muito menos feridos no relacionamento.
Um exemplo que demonstra de maneira interessante tanto repostas não-assertivas quanto agressivas à ansiedade é o caso de Karen, que estava tendo ataques de raiva dirigidos contra o homem com quem ela planejava se casar. Sua ansiedade era causada pela falta de consideração dele; chegava muito tarde aos encontros, só lhe avisava dos compromissos a que ele queria ir com ela na última hora, e outras faltas de cortesia. Karen não era assertiva com seus direitos de exigir a cortesia devida, até que sua raiva cresceu a um nível irracional e então ela explodiu com ele. Assim que ela tomou consciência de que a situação pioraria depois do casamento, e do que significaria estar casada vivendo este tipo de relacionamento, e da possibilidade de seu casamento terminar em divórcio, Karen concordou com um treinamento assertivo. Infelizmente muitas mulheres atravessam todo o seu casamento “sob o domínio” do marido, porque sentem que é o “seu lugar” no casamento.
OS SEUS DIREITOS
Ao sugerirmos asserção para as pessoas, enfatizamos o fato de que ninguém tem o direito de aproveitar de outro simplesmente por uma questão de se tratar de seres humanos. Por exemplo, um empregador não pode desrespeitar os direitos de cortesia e respeito que o empregado merece como ser humano. Um médico não tem o direito de ser descortês ou injusto ao lidar com um paciente ou enfermeira. Um advogado não deve sentir que tem o direito de “falar de cima” com o operário. Cada pessoa tem o direito inalienável de expressar-se, mesmo que “só tenha o primário” ou “esteja no caminho errado” ou seja “apenas uma auxiliar de escritório”. Todas as pessoas são, de fato, criadas iguais num plano humano e cada uma merece o privilégio de expressar seus direitos inatos. Há muito a ganhar da vida sendo-se livre e capaz de lutar por si mesmo e garantir os mesmos direitos para os outros. Sendo assertiva, a pessoa está aprendendo a dar e receber em igualdade com os outros e estar mais a serviço de si e dos outros.
Outra faceta que motiva muitos a se tornarem assertivos é a maneira como certos problemas somáticos se reduzem à medida que a asserção progride. Queixas como dores de cabeça, asma, problemas gástricos, fadiga geral, freqüentemente desaparecem. A redução na ansiedade e culpa que é experimentada por pessoas não-assertivas e agressivas, quando aprendem a ser assertivas, resulta freqüentemente na eliminação destes sintomas físicos.
Esta é a hora para compreender que você não está sozinho, que outros já enfrentaram desafios e situações semelhantes e mudaram para melhor.
A esperança e coragem necessárias para iniciar o treinamento pode ser conseguida estudando as descrições dos casos para aprender como outros ultrapassaram dificuldades similares com êxito. Você poderá se identificar com casos que citamos anteriormente e que continuaremos a descrever.
Uma implicação da asserção está sempre presente em indivíduos não-assertivos: comportamento auto-negativo sutilmente reforça outro comportamento mau ou indesejável. Dois exemplos deixam isso claro:
Diana, uma mulher casada de 35 anos, tinha um marido que desejava ter relações sexuais toda noite. Às vezes ela estava francamente cansada das atividades do dia como dona de casa e mãe de três filhos e não queria ter relações. Contudo, quando Diana recusava, seu marido reclamava e ficava magoado, insistindo até que ela “sentia pena dele” e cedia. Esses fatos se repetiam com tanta frequência em seu relacionamento que se tornaram habituais, e quanto mais Diana negava, mais ele insistia até que ela cedesse. Naturalmente, fazendo isso, ela reforçava o comportamento dele, sem contar o valor do reforço da gratificação sexual dele.
Outro exemplo é de uma estudante universitária, Wendy, de 20 anos, que embora fosse independente financeiramente, era do tipo “hippie” e vivia fora do campus em moradia barata com um rapaz e uma moça. Vivendo juntos eles dividiam as despesas e economizavam muito dinheiro. Wendy e seus amigos tinham a reputação de ser “rebeldes”. Rumores sobre o comportamento deles e suas condições de vida chegaram a seus pais, que a submeteram a longa preleção sobre a nova geração, respeito à autoridade, a saúde de sua mãe, ser vulgar, e assim por diante. Isso aconteceu várias vezes e a cada vez Wendy perturbava-se eventualmente e perguntava o que podia fazer para conciliar as coisas, e então cedia a algumas exigências deles. Assim, novamente vemos como Wendy reforçava o comportamento indesejável de seus pais, perturbando-se ou cedendo, quer dizer, ela lhes ensinava como fazer preleções a ela.
Embora possa ser mais difícil para o indivíduo geralmente agressivo admitir as consequências de seus atos, ele geralmente reconhece a reação dos outros quando os direitos deles são desrespeitados. Ele reage internamente com reconhecimento e pesar quando confrontado com a alienação que seu comportamento provoca. Se você procura ajuda, você consegue admitir para si mesmo sua preocupação e sentimento de culpa pelo mal que causou aos outros e pode reconhecer que você simplesmente não sabe como atingir seus objetivos de maneira não-agressiva. Neste ponto você é um excelente candidato para o treinamento assertivo.
Um indivíduo desse tipo foi colocado num grupo de terapia. Depois de um tempo considerável ouvindo Jerry, que monopolizava totalmente o grupo, vários membros o questionaram duramente. Embora fosse um homem forte e turbulento, Jerry logo reagiu a essa resposta, atenciosa porém questionadora que lhe foi transmitida pelo grupo, com uma crise de choro. Ele contou que seu jeito de valentão era apenas um disfarce que o protegia da intimidade das pessoas. Esta intimidade lhe era ameaçadora. Ele se sentia um desajustado e usava a máscara do “machão” para manter os outros à distância. O grupo respondeu à necessidade que Jerry tinha de ser estimado e o ajudou a elaborar respostas adequadamente assertivas que substituíssem seu comportamento provocativo e belicoso.
UMA ADVERTÊNCIA ANTES QUE VOCÊ COMECE
Desde que você está bem motivado e pronto a começar a ser assertivo, você deve primeiramente assegurar-se de que compreende perfeitamente os princípios básicos da asserção. Entender a diferença entre comportamento assertivo e agressivo é importante para seu sucesso. Em segundo lugar, você deve decidir se está pronto para começar a treinar o comportamento auto-assertivo sozinho. Geralmente as pessoas situacionalmente não-assertivas ou situacionalmente agressiva são capazes de começar a asserção com êxito. Para os indivíduos geralmente não-assertivos e geralmente agressivos, contudo, maior prudência é necessária; e recomendamos uma prática e trabalho lento e cuidadoso com outra pessoa, de preferência um terapeuta treinado, como facilitador.
Em terceiro lugar, suas tentativas devem ser escolhidas por ser potencialmente promissoras, para lhe dar o devido reforço. Este ponto, naturalmente, é importante para todos os assertivos iniciantes, mas especialmente para os geralmente não-assertivos e os geralmente agressivos. Quanto maior êxito você obtiver no início, maior a probabilidade de que esse êxito continue durante o treinamento.
Inicialmente, comece com pequenas asserções que tenham possibilidade de ser compensadoras, e então prossiga com algumas mais difíceis. Você pode desejar explorar cada passo com um amigo ou facilitador treinado até que você seja capaz de controlar totalmente a maioria das situações. Você deve proceder com cuidado quando tomar sozinho a iniciativa de tentar uma asserção difícil sem preparação especial. E tome muito cuidado para não tentar uma asserção que possa lhe acarretar um fracasso total. Isso poderá inibir suas tentativas futuras.
Se você sofrer um revés, o que pode muito bem ocorrer, pare a fim de analisar cuidadosamente a situação e tornar a ganhar autoconfiança, obtendo ajuda de um facilitador, se necessário. Especialmente nos primeiros estágios da asserção, é comum cometer erros por não usar adequadamente a técnica ou por excesso de entusiasmo, chegando ao ponto da agressão. Qualquer desvio desses pode causar respostas negativas, particularmente se a outra pessoa, “o receptor”, tornar-se hostil e muito agressivo. Não deixe esta ocorrência desanima-lo. Considere novamente seu objetivo e lembre-se que, embora a asserção bem sucedida exija treino, suas compensações são grandes.
Em quarto lugar, pondere seu relacionamento com as pessoas próximas de você. De modo típico, padrões de comportamento não-assertivo ou agressivo têm sido exercidos por um indivíduo por um longo tempo. O indivíduo não-assertivo terá estabelecido padrões de interação com aqueles que estão significativamente próximos a ele, como família, cônjuge, amigos. Assim também acontece com o indivíduo agressivo. Uma mudança nessas relações já estabelecidas pode causar bastante transtorno aos outros envolvidos. De um modo geral, os pais são freqüentemente alvo de comportamento assertivo especialmente no fim da adolescência ou aos vinte e poucos anos, quando os filhos lutam pela independência.
Naturalmente, algumas pessoas cedem aos desejos e ordens dos pais a vida toda (porque é “certo” respeitar os mais velhos, especialmente os pais que se sacrificaram tanto por você, etc.) Muitos pais acreditam piamente nisso e ficam muito desconcertados quando seu filho “se rebela” assertivamente. Por outro lado, pais que pautaram sua vida em resposta a um filho agressivo podem também ficar confusos quando perceberem que o comportamento dele está se tornando assertivo, embora há muito desejassem esta mudança. Consequentemente, pode ser útil pedir a um facilitador que intervenha e converse com os pais para prepará-los para estas modificações. Esta intervenção pode freqüentemente evitar que essas reações se exasperem e provoquem relações profundamente tensas entre pais e filhos.
Relacionamentos conjugais que têm se mantido há anos baseados nas ações não-assertivas ou agressivas de um cônjuge são igualmente propensos a ficar “de pernas para o ar” quando a asserção começa. Se o cônjuge não está preparado e disposto a mudar um pouco também, há uma forte possibilidade de rompimento entre o casal. A cooperação do cônjuge conseguida através de algumas reuniões com o facilitador pode ajudar imensamente a mudança de comportamento. Espera-se que um treinamento assertivo para um esposo fortaleça as relações conjugais. Contudo há um perigo potencial de comportamento de um dos parceiros e deve-se estar atento para agir com plena consciência dessas eventuais consequências. Uma conversa franca com os pais ou cônjuge é firmemente recomendada.
Texto extraído do livro:
ALBERTI & EMMONS Comportamento Assertivo: um guia de auto-expressão. Belo Horizonte: Interlivros, 1978.
2004 – Copyright CEMP – Centro de Estudos em Psicologia
Todos os Direitos Reservados